“Ignoring isn’t the same as ignorance, you have to work at it”
Desde domingo à noite, quando a composição do novo Congresso foi se desenhando, não consigo parar de pensar no livro "O Conto da Aia", da premiada escritora canadense Margaret Atwood. Talvez você já lido, ouvido falar ou até mesmo assistido a (ótima) série que se baseia na obra.
Escrita nos anos 1980, o livro se passa num futuro não muito distante, quando puritanos tomam o poder nos Estados Unidos, convertendo o país na república teocrática de Gilead.
Entre outras medidas extremas baseadas em preceitos radicais da religião, as mulheres perdem os seus poucos direitos. Com o avanço do fanatismo, não passam mais de um meio de procriação. Quanto mais "bela, recatada e do lar" melhor.
Um Brasil regido pelo bolsonarismo, e eu espero estar errada, pode não passar tão longe do enredo do livro. Basta lembrar que recentemente uma juíza catarinense tentou impedir que uma menina de 11 anos que fora vítima de abusos sexuais realizasse um aborto - algo que era seu direito constitucional.
Num governo que tantas vezes esqueceu de sua natureza laica, meu maior medo é que a vida imite a arte.
Por isso vale a leitura desse livro que, além de ser escrito de maneira primorosa, como apenas Atwood sabe fazer, lança uma reflexão sobre a liberdade e a fragilidade dos direitos civis e das mulheres - e os efeitos nefastos de quando Igreja se mistura ao Estado.
Um abraço,
Sarah
eu tinha fumado mais da metade de um baseado ruim quando disse que ainda te amava. você, sóbria como eu nunca tinha visto, pediu para que eu deixasse de falar besteira. tentei te iludir, contando uma história absurda que envolvia seres mitológicos e fantasia medieval. você balançou a cabeça e disse chega. fiquei nas pontas dos pés, equilibrando meus pensamentos com um beijo demorado. te convenci a ficar na minha vida por mais cinco minutos.
Carol Miranda, na news “tem alguém aí?“
.Dicas da semana
Sobre livros e leituras
- Demorou, mas com o gancho do lançamento do novo livro da Hanya Yanagihara, “Ao Paraíso“, finalmente publiquei minha resenha sobre “Uma Vida Pequena“
-Ainda aproveitando o link, uma análise psicanalítica da história de Jude - mas cuidado, contém spoilers
- A resenha de “A Vergonha“, lançamento de Annie Ernaux no Brasil, já estava programada, mas pulou a fila para aproveitar o hype do Nobel. Você pode ler abaixo
Mais sobre o mundo literário…
- Ainda na onda do Nobel, Annie Ernaux: uma mulher para amar
- Austenalopram
- Uma lista de leituras indicadas pela Patti Smith
- O que Audálio Dantas fez com Carolina Maria de Jesus?
-Bookstylist é a profissão que eu quero ter
Para assistir
- Por motivos que não consigo explicar, uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos é “Canção de Engate”, um hit oitentista eletrobrega do cantor português António Variações. O artista, falecido em decorrência da AIDS quando começava a estourar nas rádios, teve sua fascinante história de vida contada no filme “Variações” - que apesar de ter um ritmo lento, é uma viagem visual belíssima (Disponível no Stremio)
- Acontece até o dia 12/10, presencialmente em São Paulo e online para todo o Brasil, o Food Film Festival, que traz obras cinematográficas cujos enredos giram em torno da comida. Recomendo especialmente “Tampopo - Os brutos também comem espaguete“, um dos meus filmes preferidos de todos os tempo e MUITO difícil de achar
- Um ano em gritos
Para ouvir
- Filipe Catto fez uma versão lindíssima de “Canção de Engate“. Preste atenção na letra, que é de uma poesia imensa
- E já que o tema é música portuguesa, essa é outra das minhas músicas favoritas do território ultramarino
Para cozinhar
- Essa sobremesa sul-coreana
Outras Dicas
- 7 Ingredientes de primeiros socorros para a sua cozinha
- Um mapa interativo que te mostra os pontos mais divertidos em qualquer viagem
- Um guia para começar a correr - spoiler: é mais fácil do que você imaginava
- 7 produtos para fazer ao invés de comprar
Cada vez que leio que alguém fala mal de mim começo a chorar, arrasto-me pelo chão, arranho-me, deixo de escrever por tempo indefinido, o apetite diminui, fumo menos, pratico esportes, saio a caminhar pela orla do mar, que, entre parênteses, fica a menos de trinta metros de minha casa, e pergunto às gaivotas, cujos antepassados comeram os peixes que comeram Ulisses, por que eu, por que eu, que nenhum mal lhes fiz?
Roberto Bolaño, escritor chileno. Peguei essa frase da newsletter do Antônio Xerxenesky
.Então vamos aos links
(Indico o uso do site 12ft ladder para os links com Paywall. Para os que estão em outras línguas, o Google Tradutor quebra um galho)
-O prazer de ver filmes no avião
-As linguagens do amor estão por todos os lados
-As mulheres do Irã estão cortando seu cabelos e queimando seus hijabs
- Pelos femininos estão novamente na moda
- Parando com a medicação para ansiedade
-Tricotando durante o fim do mundo
- Estou mesmo muito velha para isso?
-Um grupo de caminhada. Quero já
- A nova onda do TikTok? Análises profundas
- Relacionamento bem-sucedido é aquele onde eu gosto de ser a pessoa que a outra ama
Ser mulher é padecer no inferno por tantos motivos, mas a nossa aparência ser o tempo todo uma questão central na nossa vida é algo que sempre me incomodou. Eu fico completamente esgotada de estar sempre preocupada com isso, mesmo fazendo um esforço ativo para não me preocupar. Sinto que tô sempre girando atrás do próprio rabo.
Cristal Muniz, da newsletter “Cuca Fresca“
.Tesourinho
When I don’t know how to continue writing, I just continue anyway
Werner Herzog, diretor
.Apoie meu trabalho
Essa newsletter é gratuita e deve continuar assim. Mas ela acontece graças a ajuda de alguns assinantes - muito obrigada, vocês sabem quem são. Caso você também queria fazer uma contribuição mensal pelo meu trabalho, dê o upgrade de sua assinatura neste link. Se quiser me pagar um café, esse é o link da minha conta no Ko fi e o meu pix é: sarahguiger@gmail.com. Desde já eu agradeço :)
Que angústia, amiga. Obrigada pela edição ❤️
Achei curioso a Patti Smith dizer que não se interessa muito em ler escritoras mulheres. Talvez eu já tivesse lido isso antes, mas não lembrava. Porém, vendo as indicações dos livros que ela faz, notamos que a maioria são autores clássicos, mas ainda assim acho que há tantas escritoras mulheres clássicas que vão alem do papel que ela acha que a mulher se coloca quando escreve. Eu amo a Patti Smith, é minha heroína, mas fiquei azeda com esse comentários dela. Hahahahahaha (adorei a dica do mapa, pena que eles não colocam link lugar e não dá pra saber nada a respeito). 😗