Uma das coisas que não te contam sobre a maternidade - ou pelo menos nunca haviam me contado -, é que criança fica doente o tempo todo, especialmente na estação outono/inverno. E que na maior parte dessas vezes, os pais acabam adoecendo também.
E foi num dia desses de febre e cansaço, depois de alimentar e colocar as crianças para dormir, que, como quem não quer nada, fiz um chá de gengibre com limão e deitei desconfortavelmente no sofá para assistir um filme do cineasta Éric Rohmer no Mubi.
E foi aí que a mágica aconteceu. Em questão de minutos eu não estava mais com febre e cansaço num lar assolado por um surto de H3N2, mas sim na França, nos anos 1980, num apartamento de decoração um pouco duvidosa, mas ainda assim encantadora.
Rohmer, um dos mais discretos nomes da Nouvelle Vague francesa, foi um cineasta prolífico e que chamado por alguns de monótono, trazia para as telas as pequenas belezas do dia a dia. Suas cores são facilmente reconhecíveis, assim como toda a ambientação das películas. É quase possível sentir o cheiro da flores que aparecem em muitas de suas obras.
Poucos dias depois recebi a notícia de que um dos outros nomes por trás da Nouvelle Vague, o suíço Jean-Luc Godard, havia falecido aos 91 anos. Fui muito marcada por seu trabalho, especialmente pelos filmes realizados até “A Chinesa“, de 1968, - quando ele embarca num cinema político de vanguarda e muda completamente de rumo.
Ainda adolescente, queria fumar e me vestir como Anna Karina, sua ex-esposa e maior musa. Sua obras me levavam para um lugar onde nunca estivera, a mesma Paris de Rohmer, numa época em que ainda não havia nascido, os anos 1950 e 1960.
Não é clichê, pois é verdade, dizer que a arte nos transporta e torna a realidade mais leve. Esse também é o motivo pelo qual leio. Para escapar da minha rotina, para conhecer outras vidas, outros lugares, outros tempos. Outras perspectivas.
E foi preciso um surto de gripe e a morte do Godard para me lembrar disso, do poder da arte.
Um abraço,
Sarah
.Dicas da semana
Sobre livros e leituras
- Terminei de ler esse dias “A História de Shuggie Bain“, do escocês Douglas Stuart, que foi ganhador do Booker Prize de 2020. É um livro de uma beleza imensa, mas que muitas vezes fica muito repetitivo e não se traduz muito bem para a realidade brasileira, afastando o leitor da história. Minha resenha completa você pode ler abaixo
- Terminei de ler também esse “livro” do Gabo inédito no Brasil
-Agora estou lendo “Escritores e Amantes“, da Lily King, que fala de luto e escrita, e tem me lembrado um pouco “A Idiota“, da Elif Batuman. Estou gostando muito. Assim como “A Outra Metade”, de Brit Bennett, que não foi por acaso que fez tanto sucesso nos EUA; é um baita livro. Em breve volto com as resenhas
Mais sobre o mundo literário…
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- Eu amo amo amo a “Só um Instante“, a newsletter da Editora Instante. E a edição sobre tretas literárias está boa demais
Para assistir
- Não podia deixar de indicar os filmes de Éric Rohmer e Jean-Luc Gordard, que você encontra em sua maioria no Mubi (Não é publi, é amor mesmo)
- Fãs de “Broad City”, aka uma das melhores e menos conhecidas séries de todos os tempos, já podem matar as saudades da Abbi Jacobson, que voltou para as telas como uma adaptação para série do clássico “A League of Their Own” - aquele filme onde a Madonna joga beisebol e que vale muito a pena ser visto novamente
- O filme é baseado numa história real. Quando os Estados Unidos entraram na II Guerra Mundial, as competições de beisebol masculinas tiveram que ser paralisadas. Então o país começou a acompanhar o torneio feminino do esporte. O Ryan Murphy, criador de “Glee”, fez um doc sobre uma das jogadoras, “A Secret Love“- prepare os lencinhos (Disponível na Netflix)
Para ouvir
- Quando uma das minhas bandas favoritas, Haim, fez o cover de uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos
- Ramona Lisa é Caroline Polachek em sua melhor forma
- E o Mars Volta está de volta - mil desculpas pelo trocadalho do carilho, não consegui me segurar
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amei muito o texto, e amei também ver esse filme do rhomer <3 sua newsletter sempre me deixa encantada com os temas que você traz e a forma com que os aborda, Sarah. Já to doida pra assistir as outras obras desse diretor no mubi. :')
Edição lindona <3