#18 - Cicatrizes são histórias
"As cicatrizes permanecem visíveis, mas não existe mais sofrimento. Bem, não muito, pelo menos", diz Colette, um senhora que de 90 anos que perdeu o irmão em um campo de concentração nazista - você pode ver a história dela no doc na parte "Tesourinho" da newsletter.
Anda pensando muito sobre cicatrizes.
Eu fui um criança extremamente desastrada e tenho diversas delas. Um traço na parte de cima dos meus lábios não me deixa nunca esquecer da tarde que passei brincando com meu primo e que culminou numa paulada que levei. Eram os anos 1990.
Eu lembro da correria para o hospital e lembro até do meu pai do meu lado. Lembro dos óculos do médico refletindo a linha com a qual ele costurava minha boca.
Nada disso estaria na minha memória se não fosse a cicatriz. Elas são parte de nós. Elas nos tornam as pessoas que somos. Todas elas, as visíveis e as invisíveis.
Ando pensando especificamente nas cicatrizes que a Pandemia deixará na nossa geração. Na dos nossos filhos e netos.
Minha avó sobreviveu à guerra, que nos seus últimos dias de vida sempre vinha à memória. A guerra havia acabado há mais de meio século, mas as cicatrizes continuavam lá. Faziam parte de quem ela se tornara.
Mural de recados
- A news sai com um dia de antecedência pois amanhã tenho outro compromisso mais importante. É meu dia de vacinar e não poderia estar mais feliz e esperançosa.
- Mudei a plataforma de envio. Troquei para o Substack que me dá mais opções. Por isso o layout está um pouco diferente, mais clean. Gostaram?
📅 Dicas da semana
📚 Ando lendo:
- Terminei de ler pela enésia vez “Orgulho e Preconceito”, da Jane Austen. Dessa vez na nova edição da Antofágica, que conta com análises incríveis, inclusive da Isa Sinay.
- Comecei “Vista Chinesa”, da Tatiana Salem Levy. Necessário, uma porrada na cara em menos de 100 páginas.
- Um trecho do novo livro da Sally Rooney
📺 Para assistir:
- A Dog Called Money , um emocionante filme de PJ Harvey disponível no Mubi
- Se eu sobrevivi ao furacão que foi 2020 foi em parte graças a séries como “Never I Ever Have”, que no Brasil foi traduzida como “Eu Nunca”, da Netflix. A segunda temporada estreou essa semana
🎧 Ando Ouvindo:
- Um álbum que mistura o melhor do jazz e da poesia realizado por um dos maiores nomes do Renascimento do Harlem, Langston Hughes
- Nesse site você consegue ouvir estações de rádio do mundo todo. Eu ando ouvindo nossos hermanos uruguaios de Montevidéu
- … e essa música que descobri por lá
🧶Outras Dicas:
- Três poemas de Ana Martins Marques, que tem conquistado o Bookstagram
- Três fundos de plantas para subir no Zoom que se não vão deixar suas reuniões mais curtas, pelos menos ficarão mais divertidas
- Como escolher o próximo filme para assistir?
...nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho
Vladimir Maiakóvski
💻 Então vamos aos links
- Talvez seja a hora de cancelar sua assinatura no Amazon Prime
- "Tem que pegar o leitor pelo braço": pequenas editoras resistem à crise
- 5 sites que te ajudam a entender a última ditadura militar brasileira
- The Sad Ghost Club
- Doulas da morte: como é o trabalho de quem acompanha o fim da vida
- Bob Dylan, o piadista
- Controle sua irritação e se estresse menos
Tesourinho: Ganhador do Oscar de melhor curta documentário, "Colette" registra a primeira visita de uma ex-participante da resistência francesa ao campo de concentração onde seu irmão, Jean-Pierre Catherine, foi morto na Alemanha nazista
@ da Semana
(Com todos seus defeitos, eu ainda AMO o Instagram. Graças a um tantão de pessoas bacanas que criam conteúdo por lá, a rede social é uma das minhas maiores fontes de inspiração)
Eu sempre digo que a jornalista Dani Arrais consegue traduzir em palavras coisas que eu nem sabia que estava sentindo e é muito verdade. Toda vez que me decepciono com o universo virtual, lembro dela falando sobre a “Internet que a gente quer” - um espaço de comunidade, para compartilhamento e acolhimento. Em seu perfil no Insta, ela fala de livros, síndrome de impostora, criação de conteúdo e a maternidade.