# 57 - Muito mais do que somos capazes de viver
Divagando sobre as muitas vidas que vivemos num curto espaço de tempo, a barba do Paul em "Get Back", o Spotify dos bichos, além de links e mais links
Quando eu tinha 15 anos, meu sonho era ter uma banda, de preferência punk e na Nova York de 1977. Aos 24, queria ser uma musa de Godard na Paris de 1968. Hoje, aos 34, nunca estive tão confortável na minha própria pele e meu sonho é viver como uma personagem de algum filme da Nora Ephron #coastalgrandmotherstyle e evitar as rugas pelo maior tempo possível - os cabelos brancos eu amo e são super bem-vindos.
Essa pequena anedota beira a bobice, mas me faz pensar sobre as diversas pessoas que somos durante a vida. É claro que vivemos apenas uma vez, mas quanta coisa cabe nessa quantidade finita de anos.
Eu já joguei basquete semiprofissional, já trabalhei em redação, já fui bibliotecária, já entreguei panfleto na rua, já bebi além da conta e me perdi no porto de Montevidéu, já tive todas as cores possíveis e imagináveis de cabelo - além de muitos piercings -, e hoje estou aqui contemplando a paz de viver isolada no campo (ok, em Barueri, mas perto de São Paulo qualquer lugar tem um jeito de interior). Daqui uns anos posso estar full blown no papel de feiticeira a la Rita Lee ou Stevie Nicks.
Nossa passagem pela Terra é tão pequena e ao mesmo tempo tão grande. Melhor disse José Saramago; “a vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver”.
Um abraço,
Sarah
O contrário da vida
o céu tinha um estranho tom vermelho naquela noite e ela sabia que esse era um sinal claro do fim dos tempos. aprendera na infância religiosa que perto do juízo final a lua teria cor de sangue, manchando tudo à sua volta.
ela tinha certeza de que era o apocalipse, assim como também sabia que não seria salva. não iria para o céu onde a lua agora era pintada de vermelho.
mas bem no fundo, num lugar do peito do qual nem sabia da existência, não se preocupava.
sim, a morte era o contrário da vida. mas uma vida eterna era contrária à razão.
.Dicas da semana
Sobre livros e leituras
-Terminei “A Boa Sorte“, da espanhola Rosa Montero, também conhecida pelo fantástico “A Ridícula Ideia de Nunca mais te Ver“. A resenha você pode ler abaixo, mas adianto que já é um dos meus favoritos do ano
-Também terminei de ler “Mundo Real“, do Brandon Taylor. O livro, que fez um sucesso enorme fora do Brasil, me lembrou demais as obras de Sally Rooney, tanto pelo tema - millenials que não conseguem se relacionar -, quanto pela própria escrita. A resenha você pode ler aqui
Mais sobre o mundo literário…
- Falando em Sally Rooney, uma lista com seus personagens mais irritantes
- Um app que funciona como Tinder para sua próxima leitura
- Razões para ler Hamlet
- A biblioteca que a Internet ama
- Pais horríveis na obra de Jane Austen
- Como Colleen Hoover virou a rainha do TikTok
- Livros de culinária eróticos. Oi?
Para assistir
- No filme chileno “Gloria“ acompanhamos a história de uma mulher a beira de completar seis décadas de vida que se recusa a ficar em casa e sai para aproveitar a noite sem dar satisfações a ninguém. Essa é a produção original na qual o longa norte-americano, com Julianne Moore e John Turturro, que já foi indicada aqui na news, é baseado (Disponível gratuitamente no Sesc. Digital)
- Dois filmes asiáticos dos anos 90 que retratam a solidão da vida moderna
Para ouvir
- Um Spotify de sons da natureza ao redor do mundo
-Paul completou 80 anos recentemente e o The Guardian fez um lista com suas melhores canções pós-Beatles - menção honrosa minha para o clássico “Coming Up“ e esse clipe maravilhoso
- Você pode ouvir a lista completa no Spotify:
-Bônus: A análise sobre a barba do Paul que você não sabia que precisava ler
Outras Dicas
- Um joguinho viciante de “O que veio antes?“ - eu sempre perco, mas ainda sim viciei
- Um editor de texto online que fomenta a escrita em fluxo de consciência
- Agora você pode baixar todo o arquivo da Revista Urdume, publicação dedicada às arte manuais no Brasil
- Como flertar nas redes sociais
Quando criança, podemos ser astronautas ou trapezistas. Mas o tempo, que é uma espécie de jardineiro maluco, vai podando nossos galhos, o que nos deixa trancados em uma vida muito pequena. Mesmo que seja uma existência maravilhosa, da qual gostamos, ou uma vida extraordinária, como a de Marie Curie ou de Alexandre o Grande, sempre será muito menor que a dos nossos desejos. Então, acredito que sim, todos vamos desejar em algum momento que a nossa existência seja a do outro.
Rosa Montero, escritora, em entrevista ao “Estadão“
.Então vamos aos links
-Micromóveis
- A nova onda do cinema de horror brasileiro
- Autora Mary Gaitskill analisa o fenômeno Incel
- Quanto tempo dura um objeto?
- Uma fotógrafa mulher fez o registros mais sensíveis do Velho Oeste
- Você tem um diário?
- Criolo: 'Quando se fala de periferia, a gente está falando do Brasil todo'
As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de afundar navios.
Ana Cristina César
.Tesourinho
Letrux
.Apoie meu trabalho
Essa newsletter é gratuita e deve continuar assim. Mas ela acontece graças a ajuda de alguns assinantes - muito obrigada, vocês sabem quem são. Caso você também queria fazer uma contribuição mensal pelo meu trabalho - e ter a chance de concorrer a um livro por mês -, dê o upgrade de sua assinatura neste link. Se quiser me pagar um café, esse é o link da minha conta no Ko fi e o meu pix é: sarahguiger@gmail.com. Desde já eu agradeço :)
Amei a edição! Me fez lembrar do “Meia-noite em Paris”… já sonhei em ser frequentadora do CBGB, de ter ido a Woodstock, dos anos loucos em Paris… já quis ser astronauta, economista, fotógrafa e dona de livraria (esse ainda quero). Já quis viver em Nova York e Paris e no campo e até em São Paulo mesmo… é clichê, mas a vida é uma caixinha de surpresas, a gente precisa só se permitir mudar de ideia.
adorei <3 me fez lembrar que eu queria ser bióloga na adolescência! nada a ver comigo hahahahah