Tudo começou na manhã de sábado da semana passada. Eu precisava assinar um documento online - sim, às vezes a tecnologia funciona a nosso favor -, e meu computador travou pela enésima vez naquele dia. Não sou de perder a calma com eletrodomésticos, pode perguntar para a minha impressora, que é um animal selvagem, mas nessa hora comecei a chorar.
Meu marido, que ainda se assusta quando me vê chorando apesar de eu fazer isso numa frequência muito acima da média, veio correndo para ver o que havia acontecido. Sua análise foi rápida e certeira; não dá para deixar tantas abas abertas no browser. Gostaria de inserir aqui o número de quantas eram, mas parei de contar quando atingi 50, para minha humilhação.
Enquanto ele explicava que deixar tanta coisa aberta deixa o computador mais lento, comecei a divagar, pensando que era apenas um reflexo da minha vida.
Esses dias estava caminhando pela Santa Cecília, bairro onde morei a maior parte da minha vida, e me peguei, como faço toda vez, lembrando do cantos que frequentei. Bares que fecharam faz anos ou então passaram por reformas que mudaram completamente a essência que conheci. “Aqui, onde é esse café, era uma loja de doces, naquele prédio ficava um sapateiro”, e por aí vai.
Nada contra lembrar das coisas, não me leve a mal, mas acontece que essas lembranças sempre vêm acompanhadas de uma dorzinha, das coisas que sei que nunca mais irão voltar, dos amigos que não vejo mais, de uma vida inteira que se foi.
Esse é um sentimento agridoce, na verdade mais salgado do que doce, que não faz muito sentido continuar carregando no peito. Nunca fui tão feliz como sou hoje, trabalho com o que amo, tenho amigos incríveis, amo meus filhos mais do que a própria vida. Acontece que, assim como no computador, é preciso fechar abas abertas na nossa cabeça de coisas que um dia foram úteis, mas já não são, para poder funcionar melhor.
Um abraço,
Sarah
.Dicas da semana
Sobre livros e leituras
- Terminei de ler “A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao“, de Junot Díaz, que foi ganhador do aclamado Prêmio Pulitzer de Ficção em 2008. Um baita livro. A resenha completa você pode ler no link abaixo
-Agora peguei “A Boa Sorte“, da espanhola Rosa Montero, também conhecida pelo fantástico “A Ridícula Ideia de Nunca mais te Ver“. Estou amando cada linha e semana que vem volto com a resenha
-Continuo na saga de ler “Guerra e Paz“, do Tolstói, mas preciso admitir que às vezes amo e às vezes odeio. É um grande livro, sem sombra de dúvidas, mas o ritmo é um tanto arrastado para o meu gosto
Mais sobre o mundo literário…
- O maravilhoso “O Parque das Irmãs Magnificas”, de Camila Sosa Villada, agora está disponível em formato de audiolivro no Spotify
- O poder de uma biblioteca não lida
Para assistir
- O filme perfeito existe e eu posso provar. “Fire Island“ é uma versão gay de “Orgulho e Preconceito“, da Jane Austen. É a rom-com que eu nem sabia que precisava (Disponível no Star+)
- Finalmente me rendi a “Only Murders in the Building”, que é tudo isso mesmo que vocês falavam e mais um pouco. Nunca achei que o trio Steve Martin, Martin Short e Selena Gomez poderia funcionar e estava redondamente enganada. Já torcendo para a segunda temporada chegar logo (Disponível no Star+)
Para ouvir
- Essa pérola - quase - desconhecida da MPB
- “Namas”, da banda chilena Gepe, que já tem mais de 15 anos e só descobri agora graças a nossa barreira cultural autoimposta
- Yann Tiersen, sim aquele da trilha da Amelíe Poulain, numa vibe 18+ cantando “Fuck Me“
Outras Dicas
- Relacionamento aberto: modos de usar
- Um breve guia para você cuidar da sua saúde mental
- Como encontrar seu estilo pessoal
- Esse joguinho
“E talvez seja esse o motivo para que minha nostalgia seja tão profunda, porque a utopia sumiu da nossa época, de maneira que o anseio não pode mais se orientar rumo ao futuro, mas apenas rumo ao passado, onde toda essa força se concentra.”
Karl Ove Knausgård, no livro “Outono”
.Então vamos aos links
-Eu não nasci da costela de Adão
- Dançando durante uma guerra
- Sem Frescura: o que fazer quando se está tendo uma crise de ansiedade?
- A morte do último companheiro de Violeta Parra
- O estúdio vermelho de Henri Matisse
- Morta aos 27, há 50 anos, Leila Diniz faria estremecer até o Brasil de hoje
- Criando hábitos saudáveis quando você está exausta
- Não maratone sua série favorita. Deguste
A experiência de se encontrar num livro é quase um rito de passagem. E isso é verdade em termos de raça, gênero, orientação sexual e geração
Isadora Sinay, em “Como vivemos Agora”
.Tesourinho
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amei o texto! a cada aba salva que tenta me lembrar de algo que quero ler/ver/ouvir, estou do outro lado da tela lutando por um espacinho para sair dali e voltar ao mundo que me interessa mais. acho que sou acumulador de abas e links, só não sei o pq
Vontade de imprimir o artigo das bibliotecas não lidas e deixar na mesa do Luiz. E fiquei pensando desde quinta sobre todas as minhas abas abertas. Eu não maratono a sua News, eu degusto cada edição com calma. Adoro, amiga