A vida é cheia de tristezas e após muitos anos, e alguns tombos, aprendi que a melhor forma de lidar com elas é tentar perceber a beleza que carregam em si. Pois não há dor que não tenha em seu avesso algo de poético.
Quando era criança e perdi meu pai, me senti sem rumo. Achava tudo muito injusto e desprovido de sentido. Até que comecei a prestar mais atenção aos sinais.
Não digo sinais no sentido de mensagens cósmicas que ele ou alguém estaria me enviando do além, mas das marcas deixadas por sua existência. A cópia em carbono do que um dia foi essa pessoa.
Sua presença se revelava em mim, no meu nome, na cor dos meus olhos e dos meus cabelos, no jeito de andar, mas também em suas fotos, seus livros e, principalmente, seus discos.
Ele deixou para trás uma cuidadosa seleção que continha álbuns de Ella Fitzgerald e Billie Holiday, além de Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Ivan Lins, Mutantes, para citar apenas alguns.
Tomei conhecimento dessa cuidadosamente lapidada coleção numas férias quando ainda não tinha completado dois dígitos de idade. Não posso afirmar com certeza, pois a memória é o narrador não confiável por excelência.
Me recordo, no entanto, de estar deitada no chão da sala ouvindo os discos em êxtase. Letras tão lindas que pareciam poemas, brincadeiras com nossa língua, vozes e melodias cheias de nuances, completamente novas para mim.
Ouvia que “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais” e indagava “quem lê tanta notícia?“.
E foi assim que percebi a rara beleza de ter sido apresentada a tantos nomes que me marcariam para o resto da vida por alguém que já não estava mais aqui, mas cuja presença era sentida como pegadas deixadas para trás.
Um abraço,
Sarah
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aiii caiu um cisco aqui <3
que lindo o texto de abertura. obrigada por ele.