Eu cresci na casa do meu avô, uma das pessoas mais doces que já pisaram na face da Terra, pode perguntar para qualquer um que o conheceu.
Nascido em 1930, ele acreditou por muitos anos que precisava ser o provedor do lar e proteger a família. Naquela época, para quem vivia numa cidade inóspita do interior de São Paulo, isso significava ter uma arma em casa.
Eu só vi a pistola duas vezes na minha vida. E nas duas ocasiões foi sem querer, quando ele raramente a tirava de seu esconderijo para fazer uma necessária limpeza. Ele, com toda a razão do mundo, não gostava que as crianças vissem a arma.
Eu sempre leio relatos de crianças que se feriram, algumas vezes de forma fatal, ao encontrar armas em casa. E eu entendo o lado dos pequenos, pois lembro do fascínio que a pistola me causava. Algumas vezes eu e meu primo brincávamos de tentar encontrá-la. Mexer nela, sentir o metal frio entre os dedos era meu sonho. Bem como a cena da faca que abre o livro “Torto Arado“.
Mas nunca consegui. Se não fosse a astúcia do meu avô de esconder muito bem escondido o objeto, não sei se ainda estaria aqui para contar essa história.
No começo dos anos 2000 houve uma campanha do desarmamento em todo o país e meu vô foi uma das primeiras pessoas da cidade a entregar sua arma. Já fazia alguns anos que ele não se sentia bem de viver sob o mesmo teto que ela, mas não sabia como se desfazer do objeto.
Conto essa história pois acho importante lembrar, especialmente em tempos em que o presidente e a bancada da bala lutam tão duramente para liberar os armamentos, que as crianças são seres maravilhosos e iluminados, mas completamente sem noção.
Ter uma arma e uma criança na mesmo local é brincar com a sorte. Os pequenos são curiosos, rápidos e gostam de fuçar as coisas. Eles merecem crescer num lar cheio de livros e não de balas.
Um abraço,
Sarah
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Sobre livros e leituras
- Essa semana devo terminar duas leituras que me pegaram de jeito: “Meu nome era Eileen“, de Ottessa Moshfegh, e “Loira Suicida“, da Darcey Steinke. Logo mais vem resenha por aí
- “Destransição, Baby”, de Torrey Peters. Apesar de ser uma delícia de livro, empaquei quando peguei Covid. Quero retomar em breve.
- Continuo no projeto de ler aos poucos o super clássico “Guerra e Paz“, de Leon Tolstói. Estou acompanhando o projeto de leitura conjunta Big Read e lendo um capítulo por dia. Dessa forma, o livro será concluído na última semana do ano
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Para assistir
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- Uma mesa otimizada para pais que trabalham em casa
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# 45 - Uma arma em casa
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